wish upon a star....

sábado, fevereiro 11, 2006

onde sabe bem estar...

Quando era criança imaginava as bibliotecas como edifícios altos, antigos, com prateleiras até ao tecto repletas de livros velhos, antigos, empoeirados. Um sitio onde pessoas muito inteligentes, que usavam óculos na ponta do nariz, longas barbas brancas, que sabiam tudo sobre tudo o que há para saber no mundo, passavam seus dias.
Normalmente evitava lá entrar, o silêncio exigido sempre me perturbara. Gostava de comentar, sussurrar ao ouvido deste e daquele, um ou outro excerto que despertava a minha atenção.
Por ventura hoje já não é bem assim. Muitas transformaram-se em espaços onde sabe muito bem estar. Sabe bem entrar e ver os vidros cobertos por poemas, sabe bem sentar e ouvir ao longe o burburinho da "Hora do conto", sabe bem ver as crianças correrem para as estantes dos seus livros preferidos, sabem bem escutar os "bons dias" de quem entra com um enorme sorriso no rosto, sabem bem pensar que as bibliotecas estão, cada vez mais, a ir ao encontro das pessoas.
"-Quantos livros já leste avó? estes todos?
- Todos não! São muitos!
- Um dia vou conseguir lê-los a todos, até mesmo aqueles grandes e sem desenhos"
Enternece-me saber que nem todos os meninos são bombardeados por grande parte da informação transmitida pela tv, que em muito limita o seu desenvolvimento. É bom saber que ainda há meninos que viajam para longe sempre que desfolham um livro e sonham com príncipes e princesas.
Da agradável tarde que passei na Biblioteca a ouvir o contador de histórias fica, entre muitas coisas, um poema

"Na hora de pôr a mesa éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. Depois, a minha irmã mais velha
casou-se. Depois, a minha irmã mais nova
casou-se. Depois, o meu pai morreu. Hoje,
na hora de pôr a mesa somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. Cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. Mas irão estar sempre aqui.
Na hora de pôr a mesa seremos sempre cinco.
Enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco."

José Luís Peixoto, A criança em ruínas
Biblioteca Municipal António Ramos Rosa


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